sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um "país" chamado Kosovo


O deputado português José Pacheco Pereira, em visita nos Balcãs, publicou no seu blog o artigo do «Público» da semana passada, ao qual juntou várias fotografias. Apesar de não subscrevermos integralmente, consideramos que a sua opinião não-alinhada vale a pena ler e, por isso, aqui fica um excerto sobre o que escreveu relativamente ao Kosovo: "Em Pristina, o coração é albanês e, se não fosse parte do acordo que permitiu o acto de independência, seria à Albânia que se teria juntado o Kosovo do Sul. Mas, se o Kosovo é formalmente independente, reconhecido por 70 países, não o é por outros 70, nem pela ONU, com a oposição da Rússia, aliada da Sérvia. Mais, se o Kosovo é um país, então na parte do Kosovo do Norte, a partir de Mitrovica e envolvendo as províncias fronteiriças, quem manda é a Sérvia. Na cidade de Mitrovica está um retrato dos Balcãs: no Sul, flutuam bandeiras albanesas (mais do que do Kosovo) e, no Norte, passando a famosa ponte, estamos na Sérvia. As ruas estão pejadas de propaganda política das eleições sérvias, em que esta parte da cidade participa, as inscrições são em cirílico, fala-se servo-croata e não albanês. Não há mesquitas, só igrejas ortodoxas, incluindo uma nova em folha para substituir outra que foi destruída nos confrontos de há dez anos. O hospital e muitas das despesas da cidade são pagos por Belgrado. Ninguém paga um tostão de imposto ao Governo de Pristina, nem, aliás, a nenhum Governo, porque isto é o Faroeste, parece Deadwood. Não há polícia regular, há uma espécie de milícia sem uniforme que responde ao presidente da câmara e que ninguém controla. Só por curiosidade, há dois presidentes da mesma câmara, mas isso é uma rotina nos Balcãs. Nas ruas, manda quem tem mais força. Tudo quanto é ilegal encontra guarida no Norte do Kosovo: contrabando, drogas, tráfico de pessoas, cortes de madeira ilegais, roubo de propriedades, assassinatos. Por singular coincidência, os grupos criminosos que aqui actuam são multiétnicos, sérvios e albaneses em boa colaboração."